O Ar que Me Falta #Resenhista Convidada
Filho de um sobrevivente do holocausto e neto de Láios, visto pela última vez num trem com destino ao campo de extermínio de Bergen-Belsen, Luiz foi levado ao psicólogo aos catorze anos apresentando traços que posteriormente seriam reconhecidos como de depressão. Pouco depois, passou a participar de grupos juvenis judaicos e a se dedicar aos esportes. Neste mesmo período, desenvolveu uma devoção extrema à leitura, à apreciação musical e ao colecionismo, que se combinavam com o vazio da melancolia — pista inicial da personalidade bipolar, só muito mais tarde diagnosticada.
Entre episódios de tristeza, ansiedade e euforia, o autor terminou a faculdade, se estabeleceu como editor, se casou e formou a própria família. Precisou lidar com momentos de profunda crise e obstinação desmedida — que cobrariam um preço alto a muitos que com ele conviviam — em sua trajetória como neto, filho, marido, pai e profissional. Ficou sem ar e voltou a respirar.
Resenha Sandra Martins
O título não poderia ser melhor. A biografia de Luiz Schwarcz era o ar que precisávamos para falar sobre a depressão, transtorno bipolar, doenças psicossociais, que ainda sofrem muito, mas muito preconceito hoje em dia.
Mesmo com toda campanha de conscientização que envolve alguns meses do ano, as pessoas acometidas pela doença ainda escutam absurdos como: isso é frescura, é falta do que fazer, dentre coisas mais fortes que ouvimos.
Luiz abre o coração e a alma ao se mostrar nesse livro, em que ele relata o passado de sua família que foi perseguida na segunda guerra mundial por nazistas, a morte do avô durante esse período, a vinda para o Brasil, a adaptação ao novo país e o mais forte: a culpa que ele carrega(va) pela infelicidade dos pais, especialmente por se sentir extremamente responsável pela felicidade do casal, já que eles sofreram perdas muito fortes nesse período.
É nesse caminho que Luiz se descobre uma criança melancólica, que mais tarde seria diagnosticado como depressivo e mais adiante, com transtorno bipolar.
Uma coisa que gostei muito no livro, foi o relato dele sobre sua vivência com os livros, a música e as artes em geral, influência vinda de sua mãe.
Outro ponto muito importante é o seu relacionamento com Lilian, ou Lili, como ele chama. Lilian era a bússola, a gravidade que puxava Luiz à terra. Ela foi de grande papel nessa luta para lidar com as variações de humor e períodos maníaco-depressivos de seu esposo.
Também podemos destacar a importância do pai na vida de Luiz. André era um homem que vivia atormentado pela perda do pai no período nazista e que tinha de lidar com esse trauma, as noites de insônia, a família e o trabalho. Mesmo assim, com tudo isso, ele deixou uma marca que ficou para toda a vida do filho: o livro “os meninos da rua Paulo”.
Poderia dizer que esse livro é um presente pra gente que tem depressão, ansiedade e algum outro problema dessa linha. É ver que não se está sozinhe, que não é frescura e que o apoio médico faz toda a diferença na melhora e cura. E se tiver apoio de amigos e bons familiares, melhora ainda mais. É uma luta interna mas que fica mais suportável quando temos apoio.
5/5 estrelas