De Cada Quinhentos Uma Alma #resenhista convidada
Mais uma vez, Ana Paula Maia consegue trazer para o centro da narrativa os mais dilacerantes conflitos humanos e explorar com requinte literário as nuances do bem e do mal.
Edgar Wilson trabalha recolhendo animais mortos. Ele é responsável por levar as carcaças até um grande depósito onde um triturador dizima os despojos. Contudo, quando o país entra em colapso e começa a enfrentar situações cada vez mais inusitadas, ele acaba usando seu conhecimento para tentar dar sentido ao caos e encontrar uma forma de sobreviver à barbárie.
Ao juntar-se a Bronco Gil e ao ex-padre Tomás, os três anti-heróis passam a rodar pelas estradas testemunhando a atração exercida pelo ocaso da realidade, desafiando tanto poderosos locais quanto instituições que não são bem o que eles imaginavam.
Em um misto de romance de aventura e narrativa psicológica, Maia constrói personagens brutalizados, mas absolutamente humanos, que buscam seu lugar no mundo.
Sobre o Autor
ANA PAULA MAIA nasceu no Rio de Janeiro e mora atualmente em Curitiba. É autora de diversos romances, entre eles Carvão animal, De gados e homens, Assim na terra como embaixo da terra e Enterre seus mortos. Tem contos publicados em diversas antologias e foi duas vezes vencedora do Prêmio São Paulo de Literatura. Como roteirista da TV Globo, foi responsável pela série Desalma.
Resenha Sandra Martins
Resenha: de cada quinhentos uma alma.
Ou poderíamos dizer: a cada página, uma revelação. Assim pareceu para mim o novo livro de Ana Paula Maia, uma narrativa distópica que fala sobre o ser humano, sua relação com a morte e o fim do mundo.
“A cada quinhentos uma alma”, é o segundo livro da trilogia que começou com “Enterre seus mortos” e conta a história de três homens: Bronco Gil, Edgar e Tomás, que recolhem animais mortos e se deparam - cada um ao seu modo - com conflitos de poder, uma doença que mata aves voando no céu e uma epidemia que está desolando as cidades.
Ana Paula nos deu uma trama cheia de suspense e em nenhuma das passagens a violência é gratuita. Ou contrário, ela faz parte do desenrolar da história e da atmosfera de medo e estranheza que permeia a narrativa.
“Vem pelo ar também, não é mesmo? - Ainda é cedo para saber o que é isso.”
Além desses pontos, temos muitas detalhes que nos ligam a alguns assuntos, desde sua própria obra (Enterre seus mortos), passando pelas pragas do Egito, os filmes Bacurau e O fim dos dias e uma religiosidade muito forte.
As 112 páginas podem ser poucas mas são intensas e nos fazem ter uma leitura rápida e que prende (sou lenta pra ler e terminei ele em um dia), simplesmente pelo fato de tudo estar ligado e nos deixar curioses com o que vai vir em frente.
Essa foi minha segunda experiência com a escrita de Ana Paula Maia e continua me surpreendendo e fazendo querer ler mais.
Livro: A cada quinhentos uma alma.
Quem escreveu: Ana Paula Maia
Editora: Companhia das letras
Ano: 2021.
4/ 5 estrelas